“Machimbomba” é "Maria Fumaça", locomotiva a vapor em nordestês, um anglicismo derivado de “machine bomb”.
Estampa: Joana Lira

sábado, 15 de maio de 2010

Carnaval repaginado: Joana Lira

Arte popular e desenho sempre fizeram parte da vida de Joana Lira. Carlos Augusto, o pai, além de arquiteto, é colecionador de arte sacra e arte popular – brasileira e africana. A mãe, Bete Paes, é artista gráfica assim como o padrasto, Petrônio Cunha.

Joana morou em Recife e também em Olinda onde, desde pequena, participou ativamente como foliona, fantasiada da cabeça aos pés, do famoso Carnaval de rua daquela cidade. Na adolescência, fez balé popular quando se familiarizou ainda mais com o maracatu nação, o maracatu rural, caboclinhos e tantos outros ritmos e danças nordestinos.

Em 1997, formou-se em Design Gráfico pela UFPE – Universidade Federal de Pernambuco e, trabalhando na oficina de estampas da mãe, teve a oportunidade de pesquisar sobre desenhos africanos e indígenas e, especialmente, sobre xilogravura, elemento tão característico da literatura de cordel nordestina. Ao começar a criar suas próprias estampas, veio à tona com vigor, seu desenho de “traços simplificados, marcados por cores contrastantes, fortes, chapadas e bem delimitadas pela linha preta” como ela própria descreve.

Suas pinturas mostradas na exposição “Bichos Aloprados” de 1997 foram imediatamente associadas à temática e ao visual de cores terrosas do Movimento Armorial. Este movimento pretende criar uma arte erudita com base em elementos da cultura popular nordestina e foi idealizado em 1970 por Ariano Suassuna, poeta, escritor, dramaturgo e artista plástico paraibano.

A mudança para São Paulo em 1999 trouxe uma reciclagem para o desenho de Joana, conferindo-lhe toques mais cosmopolitas e contemporâneos. Em seu pequeno ateliê na Vila Madalena, ela vinha se dedicando a criar estampas para tecidos, desenhos para cerâmicas e porcelanas e algumas ilustrações quando foi arrebatada pelo inesperado convite do pai para trabalhar no projeto da decoração do Carnaval de Recife.

Se, por um lado, o prazo de quinze dias para a execução do projeto foi uma loucura, por outro, foi uma sorte. Sabem aquelas coisas que, se pensarmos a respeito não fazemos? Pois então, nada foi pensado, foi tudo feito de supetão, na raça, não deu tempo para ter medo da magnitude do trabalho a ser encarado e, de repente, os desenhos “lilliputianos” de Joana haviam saltado para as ruas e tomado dimensões “gulliverianas”.

Isso, mais a oportunidade que o Carnaval lhe trouxe de criar uma multiplicidade de peças gráficas, levou-a a partir para peças maiores e a buscar novos suportes em seus outros trabalhos desde então. Pelo fato de ter achado uma linguagem gráfica muito cedo, sua preocupação atual é não ficar presa a uma única solução.

O traço armorial original evoluiu, hoje, para um desenho “pop brasileiro” que pode ser visto em suas estampas e ilustrações. Essa evolução também pode ser apreciada no livro “Outros Carnavais” que Joana publicou em 2008 pela DBA.

Web Site: www.joanalira.com.br

Desenho: Joana Lira. "O Sol Encobralado", Exposição "Bichos Aloprados", 1997.
Fotos: Eduardo de Souza e Gilvan Barreto. Joana fantasiada de borboleta e trabalhando em seu ateliê.
Nota: Este texto integrou, em parte, a matéria "Alalaô!" publicada na edição nr. 4 de Jan-Fev/10 da revista "LÍCIA".

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